quarta-feira, 15 de Maio de 2013

Cineasta feminista defende pornografia


«"Na pornografia ninguém faz amor, todos fazem ódio", declarou a feminista Gail Dines. E embora nem todos expressem as suas opiniões de forma tão radical, quando se trata desse tema, o consenso entre a maioria parece ser de que a pornografia não é coisa boa. Entra em cena a cineasta feminista Anna Arrowsmith, que há alguns anos tem defendido a opinião contrária: "A pornografia é boa para a sociedade", afirma.

Na indústria do chamado "cinema adulto", Arrowsmith, conhecida como Anna Span, destaca-se por ser a primeira britânica a realizar um filme pornográfico, a produção Eat me/Keep Me, lançado em 1999. Mas a defesa da pornografia não parece responder a um mero interesse comercial da cineasta, que no momento não está a fazer cinema. Anna Span disse à BBC que a sua missão é incentivar mais gente a entrar no mundo da pornografia.

Devido à sua posição polémica, Span é, volta e meia, convidada a participar de debates sobre o assunto. No mais recente, ocorrido em Londres, ela enfrentou um dos símbolos do movimento feminista na Grã-Bretanha: a escritora e académica Germaine Greer.

Span não tinha motivos para se intimidar. Ela é formada na escola de arte Central Saint Martin's School of Art and Design, em Londres, tem mestrado em Filosofia pelo Birkbeck College e actualmente faz um curso para receber um diploma em Estudos de Género na University of Sussex. Ela define os filmes que faz como "pornografia feminista".

"Eu era contra a pornografia. Mas um dia, na década de 80, estava a caminhar pelo Soho (área no centro de Londres onde há uma grande concentração de sex-shops e casas de strip tease) e enquanto olhava as lojas e bares dei conta de que a minha raiva era mais inveja", contou Span. "Eu tinha inveja da liberdade dos homens. As suas necessidades sexuais eram atendidas de tantas formas diferentes! Foi assim que converti-me a favor da indústria do sexo. Sou pró pornografia porque não ser é entregar o sexo e a visualização do sexo aos homens".

A feminista Germaine Greer discorda. Em entrevista à BBC, ela argumentou que pornografia "tem a ver com dinheiro, não libertação. A obscenidade tem um papel importante na arte, assim como na arte erótica, mas a pornografia estritamente falando não é mais do que uma maneira de fazer dinheiro", disse. Para Greer, o problema com a pornografia é que "é uma indústria imensa, que move enormes quantidades de dinheiro. E sempre foi assim, porque a pornografia é a literatura da prostituição".

Greer esclareceu que sempre advogou que a sexualidade seja incorporada na narrativa da vida quotidiana, em vez de ser confinada a uma indústria. Esse também parece ser o objectivo de Span. No entanto, ela não se incomoda que o ponto de partida para que se alcance esse objectivo seja essa indústria. "Parte do meu trabalho é normalizar a pornografia", explicou. "As feministas antipornografia dizem que isso é perigoso, mas quanto mais normal ela for, mais peso terá a influência das mulheres na indústria e mais aprenderão sobre o sexo. Para mim, isso é totalmente positivo".

Em primeiro lugar, a cineasta diz que a pornografia serve para manter os casais unidos. "Por exemplo, quando um dos parceiros tem uma libido mais alta, a pornografia preenche aquela lacuna, evitando que aquele que sente mais necessidade tenha que aborrecer o outro, ir satisfazer o seu desejo sexual noutra parte ou terminar a relação. Em segundo lugar, ela liberalizou as nossas atitudes em relação à actividade sexual. Até há pouco tempo, particularmente entre as mulheres, havia um sentimento de vergonha se faziam algo que não era convencional".

A pornografia estaria, portanto, a desempenhar um papel educador: cada vez mais mulheres têm acesso à pornografia, aprendem e entendem mais. O conhecimento traz consigo a liberdade. Porém, refutam alguns nomes de peso do movimento feminista, o efeito pode ser completamente oposto. Elas temem que agora as mulheres se vejam obrigadas a fazer coisas que não querem fazer, a comportar-se e a ver-se de uma maneira que esteja de acordo com a imagem que esse tipo de filme mostra.

"Do meu ponto de vista, essa visão subestima a força da mulher. Essas críticas vêm de uma posição feminista que considera a mulher uma vítima. Para mim, esse ponto básico do argumento é incorrecto", responde Span.

Estatísticas divulgadas em 2008 pela empresa multinacional de pesquisa de comportamento Nielsen revelaram que 30% dos consumidores de pornografia na Internet são mulheres.

"É uma questão de escolha. Queremos evitar que as mulheres façam coisas ou incentivá-las a correr riscos? Além disso, muitas jovens hoje estão mais à vontade com a sua sexualidade e sabemos que nos países onde há mais liberdade sexual as mulheres têm mais direitos sociais. Se eu mostrasse um mapa do mundo no qual os lugares em que a pornografia foi proibida estivessem pintados com uma outra cor, mas sem explicar por que, você poderia pensar que aquele era um mapa dos países onde os direitos da mulher são mais restritos. Quem alega que agora as mulheres são obrigadas a fazer coisas que não querem, parte do pressuposto de que o sexo é mau. Na minha opinião, é mais complicado do que isso: é mau mas também é bom e muitas outras coisas. Temos de desenvolver melhor a nossa atitude nesse campo.

Em terceiro lugar, a pornografia democratiza o corpo. Contrastando com qualquer outro género cultural, ela tem uma apreciação muito ampla, especialmente da figura feminina. Infelizmente, quando representada pela indústria convencional, a imagem é sempre de uma ruiva com seios grandes. O que o radar não detecta é que 50% do mercado é amador, assim, todos os tipos de corpo estão representados."»

Via Diário Digital.

0 comentários:

Enviar um comentário