domingo, 15 de Junho de 2014

Opinião: Hoje é Melhor do Que Para Sempre (S. D. Gold)



Título Hoje é Melhor do Que Para Sempre
Autora S. D. Gold
Edição Ideia-Fixa
Género Romance | Erótico
Páginas 220 | PVP 15,90 €
Ano 2014
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Situado algures entre as duas palavras, Hoje é Melhor do Que Para Sempre é um romance erótico escrito por uma anónima portuguesa sob o pseudónimo de S. D. Gold. A apetência da autora por nomes estrangeiros estende-se, aliás, à narrativa, ou não tivessem os protagonistas (e todos os outros personagens) nomes como Viviane Rose ou Maxwell Fox. Não fosse uma ou outra referência casual a Lisboa ou ao Chiado e passava bem por livro importado.

A história, como não podia deixar de ser, diz respeito às aventuras — mas principalmente às desventuras — amorosas do casal acima mencionado, ao qual se acrescenta um curto elenco de apoiantes e uma ou outra recordação de cariz mais pornográfico.

É inegável que os romances eróticos estão na moda, particularmente entre o público feminino, no entanto parece que tardam em obter o reconhecimento artístico de outras épocas, quando contavam com autores como Georges Bataille, Henry Miller, Pauline Réage ou Anaïs Nin. Deve-se isto, em parte, a uma certa resignação de estatuto, mas também a uma evidente inabilidade em tornear erros habituais como má qualidade de escrita, personagens desinteressantes, inadequação estrutural das cenas de sexo ou uso exagerado de lugares-comuns.

Tratando-se de um primeiro romance, Hoje é Melhor do Que Para Sempre sai-se surpreendentemente bem na rectificação de alguns destes pontos. Desde logo, está bem escrito. As cenas de sexo, em particular, são bem exploradas, afastando-se a descrição das metáforas pouco abonatórias que por vezes se utilizam neste tipo de livros. Mais do que isso, a autora demonstra ser conhecedora das bases estruturais de uma história, organizando-a de forma muito «limpa» e dispondo de modo claro quase todos os arquétipos clássicos (Sarah no papel de guardiã, por exemplo).

Não obstante, há que realçar que o enredo é, no geral, pouco coeso, esvaindo-se por vezes o problema central num carácter demasiado episódico, com um elenco secundário pouco ou nada explorado e cenários de necessidade pouco evidente, em especial o da festa tirada a papel químico do filme Eyes Wide Shut, que, além de cliché, surge desajustado à narrativa, como que incluído apenas para preencher páginas com mais conteúdos «sumarentos».

A quantidade exagerada de páginas é, de resto, um problema bem evidente para a (curta) acção de Hoje é Melhor do Que Para Sempre. Uma história destas pedia antes um tratamento de novela, bastando para isso cortar-se as partes mortas e um certo flashback cujo único objectivo parece ser a exploração de mais uma cena de sexo, no caso um ménage à trois entre a protagonista e dois personagens que se revelam absolutamente irrelevantes para o enredo.

Por falar em personagens, admito que fui incapaz de simpatizar tanto com Maxwell Fox como com Viviane Rose. Se o primeiro me pareceu demasiado passivo (ou até feminino) para a forma como o pintam, a segunda, que assume o estatuto de real protagonista, soou-me tão supérflua e imatura que se tornou complicado levá-la a sério. É que se de Max ainda se pode apontar o amor pela irmã como qualidade, Viviane não tem, a meu ver, quaisquer características que a redimam. Que dizer, por exemplo, da rapidez com que decide usar o ex-namorado da amiga para descarregar as frustrações?

Da mesma forma, não me parece suficientemente forte o problema central da obra, e isto nem a escrita eficaz ou a boa organização estrutural são capazes de resolver. Repare-se que a questão central da história, origem de todos os problemas entre Max e Viviane, se resume a uma incapacidade tão ridícula como inexplicável de comunicação entre ambos. Ainda estou para perceber o porquê de se ficar em silêncio (ou optar por sexo) com tantas oportunidades de esclarecer um desentendimento tão mesquinho. Mas talvez seja de mim, talvez eu seja demasiado pragmático para estas coisas.

Pensando bem, aí é que está: não pertenço ao público-alvo. Hoje é Melhor do Que Para Sempre dirige-se, como referi acima em relação à maioria das obras modernas do género, a um público predominantemente feminino, mais apto a identificar-se com a protagonista e a suspirar tanto com o romance central como com as cenas de sexo (sem algemas ou chicotes) da história. Por outras palavras, quem gosta vai gostar. Se bem que desconfio que quem gosta nem precisa de recomendação: comprou à primeira frase, logo que leu «romance erótico».

Texto: Tiago Matos

1 comentários:

Hoje ela descalça os sapatos e para sempre bate uma grande punheta com os pés!..tão bom (:

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