domingo, 27 de Outubro de 2013

Opinião: De Corpo e Alma (Erica Fontes)


Título De Corpo e Alma
Autor Erica Fontes
Edição ASA
Género Biografia | Não-Ficção
Páginas 224 | PVP 14,90 €
Ano 2013
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Quem é Erica Fontes? Se está a ler este texto, o mais provável é que já o saiba. Talvez o nome dela lhe soe familiar. Ou então tem a impressão que já a viu em algum lugar, mas não sabe bem onde. Ou a fazer o quê. Não há problema, eu finjo que acredito e explico-lhe tudo. Assim sempre pode dizer que aprendeu aqui.

Erica Fontes é uma actriz pornográfica portuguesa. Não, corrija-se: é a actriz pornográfica portuguesa. Não é que não existam outras, mas ela é, sem grande margem para discussão, a melhor. E isto nem é uma questão de opinião pessoal. Basta atentar ao galardão de melhor actriz internacional alcançado nos XBIZ no início deste ano. Que, para quem não sabe, são os Óscares da pornografia mundial.

Um breve aparte sobre pornografia: há quem goste mais e há quem goste menos. Há quem faça dela religião e há quem a considere obra do demónio. No entanto, se formos bem a ver, é um serviço como tantos outros. Satisfaz uma necessidade. E figurativos macacos me mordam se não me aguça o patriotismo ver uma portuguesa ser distinguida lá fora como a melhor. Seja em que área for.

De Corpo e Alma é a autobiografia de Erica Fontes. Se bem que, pela forma como está escrita, é quase o seu diário privado. Refiro-me aos pormenores. São muitos, por vezes até demasiados. Eu não preciso, por exemplo, de saber que, num certo dia, Erica se levantou da cama às 10 horas, comeu o seu Nestum de mel com leite quente, passou a taça por água e foi tomar banho. Não preciso. Mas também admito que, em vez de a tornar maçadora, esta proximidade confere à leitura uma autenticidade muito interessante. Como se estivéssemos na posse de um qualquer diário secreto de uma adolescente.

Claro que Erica não é uma adolescente. Aliás, grande parte das cenas descritas neste livro são bem adultas. Existe, como seria de esperar, muito sexo. Explícito. Mas nota-se também uma importante distinção entre a vida pessoal e profissional da actriz. O próprio estilo de escrita transparece as diferenças. A linguagem é quase sempre crua, sem lugar para subtilezas, mas são mais carinhosas as descrições de sexo caseiro com o namorado e mais mecânicas as de sexo por razões profissionais (com ou sem ele). Na verdade, a própria Erica refere que, se o sexo fosse como nos filmes, ela nunca teria um orgasmo.

Em De Corpo e Alma, acompanhamos vários momentos da vida de Erica. O primeiro encontro com o homem que se havia de tornar Ângelo Ferro, o dia-a-dia na Margem Sul, os primeiros passos na pornografia aos 18 anos, as feiras medievais locais (pessoalmente, não fazia ideia que existiam por cá, e muito menos que incluíssem sexo ao vivo), a estreia com outros parceiros, a internacionalização, as experiências mais bizarras, as cenas mais assustadoras, etc.

Assim de cabeça, algumas das coisas que aprendi com De Corpo e Alma:

  • Erica Fontes não se chama Erica Fontes; 
  • A ejaculação masculina também se simula; 
  • O Big Brother alemão anda atento; 
  • Sexo ao vivo é melhor com Rammstein; 
  • «Pussy, Pussy» é «Beijo, Beijo» em húngaro; 
  • A Coca-Cola devia pensar seriamente em patrocinar Erica Fontes.
Também teria aprendido que em Portugal existem muitos jornalistas incompetentes que retiram declarações do contexto (ou simplesmente inventam notícias) de forma a vender o seu peixe, mas isso já o sabia.

Em todo o caso, De Corpo e Alma é, no seu registo descontraído e quase voyeurístico, uma leitura interessante e uma excelente fonte de conhecimento sobre o estranho mundo do sexo. Recomendo e tenho para mim que, sendo alvo de uma aposta séria de promoção, corre o risco de ser um sucesso de vendas.

Texto: Tiago Matos

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