sábado, 7 de Setembro de 2013

Prazeres que se pagam


Que alguns homens recorrem com frequência a prostitutas para satisfazer os seus desejos é um dado adquirido. Mas sabia que também os há que só conseguem obter prazer a pagar?

Texto: Maria Waddington

Pedro tem 28 anos e um problema: o sexo, para ele, só tem prazer se for pago. A justificação, segundo o próprio, é simples: «Sinto necessidade de ter o poder na mão». Mas existirá mais alguma razão para um comportamento tão extremo? Poderá a sua condição ser fundamentada num simples temor de rejeição? Foi o que quis saber quando lhe perguntei se tinha habitualmente sucesso com as mulheres. «Hoje em dia não me queixo, mas se calhar tenho de admitir que podia ser melhor a lidar com elas. Claro que há uns anos era mais complicado. Quando era pequeno e as minhas colegas de escola diziam que gostavam de mim, fugia. Mesmo mais velho ficava nervoso, não conseguia meter conversa com elas.» Talvez por isso, tardou a perder a virgindade. «Aos 23 anos ainda era virgem. O único no meu grupo de amigos. Os meus pais tinham-me oferecido casa, carro, estava a terminar a minha licenciatura… mas não havia forma de arranjar namorada.» A situação havia de mudar. «Estudava no Instituto Superior Técnico e todos sabemos que aquela zona, à noite, consegue ser muito "suspeita", não é? Às vezes ficávamos a estudar até tarde nas vésperas dos exames, e os meus colegas punham-se a contar alguns episódios sexuais que tinham, inclusive com prostitutas da zona. Claro que a coisa me excitava. Um dia ganhei coragem e decidi ir ter com uma daquelas “meninas” que rondavam o Técnico. Paguei, tive o serviço e posso dizer que me senti o homem mais realizado do mundo.» Era o início de um autêntico vício.

FETICHES
Nos tempos que se seguiram, Pedro recorreu com frequência a prostitutas para satisfazer os seus desejos sexuais acumulados. «Ia ter com uma pelo menos três vezes por semana, e sempre que pagava sentia-me especialmente poderoso. Estavam ali porque eu as queria, porque eu as escolhia, porque o meu dinheiro pagava para as ter. Podia fazer tudo o que quisesse com elas, tocar-lhes como me apetecia, e elas incentivavam-me. É para isso que estão lá, não acho que haja nenhum problema com isso. Há quem sinta poder ao agredir as pessoas ou a tratá-las mal. Eu apenas gostava – e ainda gosto – de dominar o sexo como me apetece sem me sentir mal por isso.» As experiências continuaram e evoluíram, aliás, para outros níveis. «No início, como disse, só ia a prostitutas de rua, mas depois comecei a recorrer aos anúncios do Correio da Manhã. Telefonava e marcava a hora e o local. Normalmente, quanto mais longe da minha área de residência, melhor. Hoje em dia utilizo principalmente a Internet. O Badoo tem sido uma excelente base de dados e de pesquisa. E como costumo andar pelo país em trabalho, até já tenho uma lista de contactos em várias zonas.» Não evoluiu apenas o método de escolha, mas também o tipo de sexo. «Já fiz sexo de todas as formas e com todo o tipo de mulheres. Aliás, também já me envolvi com travestis e transexuais, mas apenas para sexo oral. Não me incomodou nada. São muito “entusiasmados” no que fazem, e fazem esquecer o seu género verdadeiro. Essa é a melhor parte: a pagar, posso escolher as posições que mais me agradam e realizar fetiches e fantasias sem ser chamado de tarado.»

SEXO VS. AMOR
É evidente que Pedro gosta realmente de sexo com prostitutas. Mais até que nas suas palavras, vê-se no olhar e na efusividade com que relata as suas proezas. Mas subsiste-me uma dúvida: porque é que o sexo «normal», sem pagamento, é mau? Será que o problema de Pedro é que nunca se apaixonou? «Já me apaixonei, sim. Já me envolvi com mulheres que ainda hoje não esqueço… mas nunca quis sexo com elas. Claro que houve troca de carinhos e as coisas chegaram várias vezes a aquecer, mas na hora H recuso-me a avançar. Sei que se não pagar não me vou sentir bem. Tenho demasiado respeito por elas para as tratar como os objectos que quero que sejam. Já é intrínseco em mim, não consigo deixar de ser assim, e por isso prefiro não me envolver sexualmente com elas, até porque senão todos os momentos de carinho acabam por perder o encanto. Às tantas elas afastam-se, e algumas já ficaram inclusive bastante ressentidas comigo, mas prefiro que seja assim, até porque me continuo a lembrar delas pelos bons momentos.» Pedro é um caso invulgar. Divide em absoluto a sua vida afectiva em sexo e amor. E até ver, segundo diz, nunca se sentiu tentado em juntar os dois campos numa única pessoa. Ao despedir-me dele, permaneci, contudo, com uma questão: e se um dia o dinheiro acabar?


Artigo publicado na edição #04 da Revista 21

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