sexta-feira, 14 de Dezembro de 2012

Perfil: Nostradamus

Revista 21 - Nostradamus

Muito se fala sobre ele, tendo-se mesmo tornado uma espécie de símbolo do fim do mundo, mas poucos conhecem verdadeiramente a vida do profeta mais famoso de sempre: Michel de Nostredame.

Texto: Tiago Matos

França, 1503
Michel de Nostredame, mais conhecido como Nostradamus, nasceu na França em Dezembro de 1503. Pouco se sabe sobre a sua infância, mas tinha, pelo menos, oito irmãos.

Peste negra
Aos 15 anos, Nostradamus foi estudar para a Université d’Avignon et des Pays de Vaucluse, mas viu-se forçado a interromper os estudos um ano depois, graças à peste negra.

Boticário
Apesar de já não estar na universidade, Nostradamus não deixou de procurar conhecimento, ainda que por conta própria. Viajou pelo país durante oito anos, estudou remédios naturais, tornou-se boticário e, mais tarde, voltou à escola para fazer um doutoramento em medicina. A ideia não lhe correu bem, já que acabou por ser expulso: naquela altura, os boticários não eram bem vistos junto à comunidade médica e universitária.

Pétalas de rosa
Retornado ao seu emprego de boticário, Nostradamus costumava tratar os seus pacientes infectados pela peste com comprimidos feitos de pétalas de rosa. Como é óbvio, o medicamento não servia de cura para a doença, mas, segundo o francês, ajudava a prevenir o mau hálito e as cáries dentárias.

Estudar o oculto
Neste período, Nostradamus casou e teve dois filhos, vendo, porém, poucos anos depois, toda a sua família morrer graças à peste. Devastado, virou a sua atenção para o estudo do oculto, alegadamente para falar com eles.

Almanaque anual
Em 1550, como consequência do seu novo interesse, publicou um almanaque com previsões para o novo ano. Este teve tal sucesso que Nostradamus o continuou a escrever, ano após ano, acumulando no processo algum dinheiro e ganhando fama como vidente.

Vidente imperfeito
A fama fez com que Nostradamus passasse a ser regularmente consultado, inclusive por algumas das mais importantes figuras da sociedade. Diz-se, contudo, que cometia vários erros nas suas consultas, pelo que acabou por virar a sua atenção para a escrita de um novo manuscrito, aquele pelo qual ainda hoje é conhecido.

Les Propheties
Em 1555, Nostradamus publicou Les Propheties, um manual de previsões que se estende ao longo dos tempos, baseado, segundo o francês, nos seus conhecimentos de astrologia judicial. O livro foi, porém, desde logo bastante criticado por outros astrólogos, que apontavam que era impossível partir de mapas astrológicos comparativos para prever acontecimentos futuros.

Encriptação
Nostradamus tinha bastante medo que a Igreja se virasse contra ele, acusando-o de bruxaria e mandando-o matar. Escolheu, por isso, uma linguagem profundamente encriptada para as suas quadras premonitórias. Não adivinhou, portanto, que a Igreja nunca teria qualquer problema com ele.

Fim do mundo
Logo no prefácio do seu livro, Nostradamus indica que as suas profecias se estendem apenas até ao ano de 3797, deixando implícito que será então que o mundo terminará. Alguns críticos apontam que a data terá sido influenciada por uma interpretação errada de trabalhos de Roussat, que indicava que o fim do mundo seria no ano 2242. Nostradamus terá feito uma simples adição (1555+2242) para chegar ao valor final de 3797.

Mirabilis Liber
Nem só de «inspiração» Nostradamus se baseou para as suas profecias. Para além de inúmeras citações d’A Bíblia, o francês traduziu várias previsões do livro Mirabilis Liber, apresentando-as então como suas.

Profecias sem profeta
O próprio Nostradamus rejeitou sempre o título de profeta. Segundo o francês, o seu único papel era arriscar previsões através dos seus estudos, não garantindo nunca o sucesso das mesmas, o que, na sua opinião, não o tornava um verdadeiro profeta.

Cópia à mão
Tendo em conta que, na altura, os livros eram copiados à mão, não havia duas edições idênticas nem forma de evitar alterações no texto. Como resultado, é impossível saber se as quadras que hoje conhecemos são mesmo as que Nostradamus escreveu originalmente.

Servo do mal
Apesar de tudo isto, o livro aumentou drasticamente a reputação de Nostradamus, pelo menos junto das classes altas, que o julgavam um verdadeiro iluminado. As classes sociais inferiores, por outro lado, viam-no como um louco, um falso profeta ou um servo do mal.

Previsão da morte I
Em 1566, aos 62 anos, Nostradamus morreu vítima de um edema causado pela gota de que há muitos anos sofria. No dia anterior, terá dito ao seu secretário: «Não me encontrarás vivo ao nascer do Sol».

Previsão da morte II
Nostradamus foi descoberto morto no chão do seu quarto, entre a cama e um banco, exactamente como previsto numa das suas profecias. Suspeita-se, contudo, que esta terá sido alterada a posteriori por um tradutor, de modo a «encaixar» na realidade.

Almanaque de 1567
Apesar de ter morrido sensivelmente a meio de 1566, Nostradamus deixou preparado mais um dos seus habituais almanaques de premonições para o novo ano. Este foi publicado, como planeado, no início de 1567.

Nostradamus no Google
Várias das previsões de Nostradamus foram apontadas, ao longo dos tempos, como verdadeiras. Diz-se, por exemplo, que o francês acertou a ascensão de Hitler (incluindo o nome do ditador) e de Napoleão, o Grande Incêndio de Londres e o 11 de Setembro. Segundo o jornal The New York Times, nos dias imediatamente após os ataques terroristas de 11 de Setembro, a palavra mais pesquisada no Google foi precisamente «Nostradamus».

Papa Sisto V
Com o passar do tempo, e especialmente após a sua morte, foram-se formando inúmeras lendas em relação à sua vida. Segundo uma lenda italiana local, Nostradamus encontrou um dia um jovem monge a juntar porcos e, de modo respeitoso, para espanto das pessoas que o acompanhavam, tratou-o por «Vossa Santidade». Em 1585, 19 anos após a morte do profeta, esse mesmo monge tornou-se o Papa Sisto V.

O medalhão
Propagou-se também muito tempo a ideia de que Nostradamus tinha sido enterrado com um documento que continha os segredos das suas profecias. Em 1700, o seu caixão teve de ser transportado para outra localização e os responsáveis decidiram abri-lo para o procurar, mas não tiveram sucesso. Encontraram, porém, no esqueleto, um medalhão com o número «1700» inscrito, levando muitos a crer que o francês previra o ano em que o seu próprio caixão seria aberto.

Museu Nostradamus
A casa na qual Nostradamus viveu com a sua segunda mulher e os filhos de ambos, em Salon-de-Provence, foi transformada numa espécie de museu e permanece ainda hoje aberta ao público. A cidade mantém todos os anos um festival em honra ao profeta.


Artigo publicado na edição #16 da Revista 21

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