sábado, 15 de Dezembro de 2012

2012: Apocalypse Now?

2012 Fim do Mundo

Já todos conhecemos a história: o mundo acaba em 2012. Tal como acabava em 2000. Ou em quase todos os anos desde o início dos tempos. Desta vez, as teorias de apocalipse inspiram-se nas lendárias profecias dos maias para 2012. Mas será que foi mesmo isso que este povo previu ou alguém exacerbou a coisa? Corremos realmente algum risco, ou tudo não passará de pânico vazio, à semelhança do Y2K?

Texto: Tiago Matos

Diz-se que o medo torna crente o homem mais racional, e tendo em conta a instabilidade actual do mundo, não custa perceber o porquê do surgimento de tantos filmes, livros e documentários centrados em teorias apocalípticas com data marcada para Dezembro de 2012. Mas afinal o que podemos realmente esperar para esta data?

Os maias
A única certeza que temos é que, há mais de mil anos atrás, a civilização maia, uma das mais avançadas do seu tempo, em particular na área da astrologia, desenvolveu um calendário especial, que marcava o tempo através de uma contagem linear. Tendo o seu ponto de origem em 3114 a.C., este utilizava as seguintes medidas: 20 dias formam um uinal, 18 uinals um tun, 20 tuns um k’atun, e 20 k’atuns um b’ak’tun. Ao 13.º b’ak’tun (13.0.0.0.0), o calendário termina e, com ele, a contagem temporal maia. Adaptada à nossa realidade, corresponde a data a 21 (ou 23) de Dezembro de 2012.

John Major Jenkins
Muitos acreditam que o 13.º b’ak’tun assinalava, para o povo maia, uma ocasião de grande mudança, com consequências tão profundas que a própria existência humana estaria posta em causa. Durante a década de 90, o investigador John Major Jenkins afirmou que o final do calendário maia coincidirá com um raríssimo fenómeno galáctico, no qual, da perspectiva da Terra, o Sol ficará alinhado com o centro da Via Láctea, um imenso buraco negro ao qual foi dado o nome de Sagittarius A*. A hipótese levantou o receio de que se verificasse um efeito gravitacional que arrastasse o Sol para o buraco negro. A ideia foi, contudo, recusada por outros investigadores, que apontam que, para além de ser impossível conhecer com exactidão o centro da galáxia, o Sol teria de estar muito mais próximo de Sagittarius A* para poder sofrer algum tipo de atracção.

Nostradamus
Não foram só os maias a prever «alguma coisa» para 2012. Ao longo dos tempos, muitos foram os profetas que apontaram a data como passível de albergar o fim do mundo ou um acontecimento global capaz de mudar, espiritualmente, a realidade humana. Desde logo, as palavras do mais célebre de todos os profetas, Nostradamus, foram associadas a 2012, especialmente o manuscrito Vaticinia Nostradami, descoberto em 1982, que continha várias gravuras de profecias apocalípticas. Porém, tal como acontece com as suas quadras, é tal o grau de encriptação simbólica que se torna impossível retirar ilações claras das imagens. Afirmam os cépticos que quando se procura muito uma coisa, acaba por se encontrar, mesmo que não esteja lá. Parece ser este o caso, tanto no que no diz respeito a Nostradamus, como ao povo Hopi, ou ao estudo do código bíblico e de outros manuscritos religiosos que prevêem o fim do mundo. Nunca se aponta uma data específica, pelo que tudo são suposições.

Timewave Zero
O mesmo não acontece com o trabalho de Terence Kemp McKenna. Utilizando uma fórmula numerológica (a qual apelidou de Timewave Zero) destinada a prever o nível de «novidade» de uma data específica, tendo por base o número de interconexões do universo e os hexagramas do I Ching, McKenna chegou a uma série de gráficos que indicam um nível de «novidade» extraordinário para o final de 2012. Curiosamente, através de um processo mais ou menos semelhante, José Argüelles chegou ao mesmo resultado.

Web Bot
Existe ainda um outro projecto tecnológico de relevo que aponta para uma grande catástrofe em Dezembro de 2012. Web Bot é o nome de um software criado para prever tendências nos mercados bolsistas, através da pesquisa da Internet. Ficou famoso ao prever, a Junho de 2001, uma grande tragédia mundial num período de 60 a 90 dias (11 de Setembro), entre várias outras calamidades. Vários críticos afirmam, porém, que ainda que o programa consiga, de facto, prever acontecimentos causados por humanos, é impossível que possa ter sucesso a prever catástrofes naturais.


Previsões do Web Bot 
para o futuro

2012
Grande Catástrofe Global
A partir daqui, o programa exibe um invulgar vazio de informação até Maio de 2013

2017-2020
Nova Forma de Capitalismo
Implementada por um jovem e carismático estudante

2019
Colapso Total do Governo da Coreia do Norte 
Morte de Kim Jong-Un e eventual reunificação das Coreias em 2022


Carga Solar
Tudo o resto são hipóteses. Há quem diga que o campo magnético terrestre está a enfraquecer e que o aumento comprovado da carga solar neste ano pode causar na Terra uma reversão geomagnética, ou até um rápido deslocamento dos pólos. No entanto, o pico solar que se fez sentir em 2012 foi perfeitamente normal, segundo os níveis que ocorrem uma vez em cada 11 anos. O único problema que se pode esperar como consequência de um eventual aumento de carga solar, segundo a NASA, é a quebra de comunicações com alguns satélites.

Nibiru
Outra teoria avançada é a de que um planeta (de nome Nibiru) colidirá com a Terra este mês. Mais uma vez, a NASA nega essa possibilidade, assegurando que se existisse algum corpo estranho a caminho do nosso planeta, os astrónomos já o teriam descoberto há muito tempo. Claro que a Terra está sempre sujeita a colisões com cometas e asteróides, mas o último grande impacto foi há 65 milhões de anos atrás, levando à extinção dos dinossauros, e não se espera nada de semelhante para o futuro próximo.

Fenómeno 2012
As suposições continuam: fim do capitalismo, colapso total do sistema de comunicações, ataques terroristas, doenças antigas que retornarão mais mortíferas que nunca, invasões alienígenas, Terceira Guerra Mundial. A maioria de nós parece, na verdade, sentir um prazer especial pelo medo, uma faceta masoquista que se manifesta especialmente em fenómenos globais. Assim se explica, afinal, a generalização do fenómeno 2012, tal como antes se explicou o Y2K: todos queremos sentir, de algum modo, que somos especiais no espaço e no tempo. Há, contudo, que ter em conta que nenhuma das teorias apresenta provas concretas de apocalipse e que, ainda que a contagem longa dos maias terminasse em 2012, não quer dizer que não pudesse recomeçar logo de seguida com uma nova unidade de medida. Eles é que não tiveram tempo para isso. Que é como quem diz, mais vale precaver que simplesmente prever.


Artigo publicado na edição #16 da Revista 21

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