terça-feira, 18 de Setembro de 2012

Salman Rushdie critica falta de coragem dos editores actuais


«O livro Os Versículos Satânicos, que em 1989 provocou a ira de muçulmanos pelo mundo inteiro e levou o escritor Salman Rushdie a ter que viver escondido, não seria publicado hoje no atual clima de "medo e nervosismo", considera o autor.

"Um livro crítico ao Islão dificilmente seria publicado hoje", afirmou Rushdie em entrevista à BBC, numa altura em que se registam manifestações anti-americanas no mundo islâmico deflagradas pela divulgação do vídeo Innocence of Muslims (Inocência dos Muçulmanos), considerado difamador contra o profeta Maomé.

Para o escritor indo-britânico de 65 anos, a única maneira de resolver a questão é com os editores assumindo uma postura mais corajosa. "A única maneira de viver numa sociedade livre é sentir que você tem o direito de dizer e fazer coisas", diz Rushdie.

Muitos muçulmanos consideram Os Versículos Satânicos blasfemos, e o livro ainda é proibido em diversos países, incluindo a Índia. Rushdie afirma que a proibição do seu livro e as ameaças contra a sua vida criaram um "efeito assustador de longo prazo".

Rushdie foi obrigado a viver vários anos escondido e sob proteção policial após o então líder supremo do Irão, o ayatollah Khomeini, ter publicado uma fatwa (decreto religioso) pedindo a execução do escritor.

Rushdie afirma que a perseguição a escritores permanece um problema sério em vários países muçulmanos, incluindo Turquia, Egito, Argélia e Irão.

"Se você observar a maneira como a livre expressão está a ser atacada pelo extremismo religioso, as coisas pelas quais essas pessoas são acusadas são sempre as mesmas - blasfémia, heresia, injúria, ofensa - é um vocabulário medieval", afirma.

"Estamos numa posição difícil, porque há muito medo e nervosismo por aí", diz.

O escritor cita como exemplo o facto de que na semana passada o canal de TV britânico Channel 4 foi obrigado a cancelar a exibição de um documentário intitulado Islam: The Untold Story (Islão: a história não contada) após sofrer ameaças.

"O facto de que um documentário sobre o Islão pode ter a sua exibição cancelada porque alguém teme as consequências é uma indicação disso (do clima de medo)", observa.

O autor observa, porém, que há alguns anos, no 20º aniversário da fatwa que foi decretada contra si, muitas pessoas que tinham ajudado a organizar os protestos contra ele disseram aos jornais terem-se arrependido dos seus actos.

"Algumas pessoas pareciam aceitar o argumento da livre expressão e entendiam que se tinham o direito de dizer como se sentiam, era errado evitar que as pessoas que tinham sentimentos diferentes pudessem expressar-se", diz. "Se isso for correto, talvez possamos sair deste clima de medo", diz.

O escritor prepara-se para lançar um livro de memórias intitulado Joseph Anton (o nome que escolheu - em referência aos seus autores preferidos, Joseph Conrad e Anton Chekhov - a pedido da polícia, no período em que viveu sob proteção), no qual conta como foi forçado a viver escondido após a fatwa de Khomeini em 1989.

Joseph Anton – Uma Memória, onde o autor recorda todas as pressões e ameaças de morte de que foi alvo, a partir de 1989, pouco depois de ter publicado Os Versículos Satânicos, é publicado [hoje] em Portugal pela D. Quixote.»

Via Diário Digital.

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